Em psiquiatria, de modo amplo, podemos definir “emergência” como sendo os casos em que há risco iminente para o paciente ou para outros, próximos ou públicos.
Neste contexto, pode-se incluir os quadros de agitação psicomotora, com agressividade, atos violentos ou desorganizados e comportamentos de risco (exposição social, uso de substâncias em excesso, tentativas de suicídio, recusa alimentar, gastos excessivos incontroláveis, etc.).
A linha que diferencia esses comportamentos serem vistos como eventos policiais ou jurídicos, ou eventos médicos, psiquiátricos, é a presença de sintomas e diagnósticos de transtornos psiquiátricos.
Uma pessoa que, por exemplo, sai do carro e agride um transeunte em uma discussão, evidentemente está cometendo um ato passível de intervenção policial. Mesmo assim, quando esse mesmo motorista tem um quadro de insônia crônica, intensa aceleração de curso do pensamento, diz coisas desconexas, e apresentou modificação em seu padrão de comportamento anterior, aí estamos também diante de um caso de transtorno bipolar, e é necessária uma intervenção médica.
Casos assim são comuns e precisam ser tratados imediatamente.
Tentativas de suicídio, que muitas vezes param em emergências de hospitais clínicos, devem também passar por um pronto atendimento psiquiátrico. Nesses casos, como no acima descrito, a internação da pessoa que está em sofrimento psíquico deve ser o primeiro passo tanto para tratar como para proteger a pessoa em relação aos danos que ela pode causar a si mesma.
Diante de uma emergência psiquiátrica em casa, por exemplo, em um ambiente que por si só pode ser pouco seguro, pode ser preciso chamar um médico e uma equipe com ambulância para manejo do quadro.
Apesar do que se imagina, ou seja, que haverá sempre o uso de alguma “violência”, com o paciente sendo agarrado e contido e depois medicado com o “sossega-leão”, o manejo calmo, direto, dando ao paciente meios de se comunicar abertamente com a equipe, sendo reassegurado o tempo todo do que é necessário e está neste caso sendo feito, evita que se chegue ao ponto de ter que contê-lo e muitas vezes até medicá-lo naquele momento.
Quando o manejo técnico é bem executado, portanto, a remoção por ambulância não é feita obrigatoriamente com o paciente sedado, evento que pode precisar acontecer em ocasiões específicas.
A mesma situação ocorre em pronto atendimento. Enfermeiros e médicos habilitados, usando atitudes e falas adequadas, podem manejar o quadro sem recorrer em alguns casos a ter que conter o paciente, embora mesmo quando isso é necessário haja técnicas seguras para fazê-lo.
Conter o paciente e medicar não significa amarrar e dar um “sossega-leão”. Conter significa proteger o paciente durante o tempo necessário para o controle efetivo e o uso de medicamentos também por tempo determinado, segundo protocolos rígidos de segurança.
É sempre bom lembrar que o atendimento de uma emergência psiquiátrica é muitas vezes o início da jornada de tratamento do paciente, e o que ali ocorre muitas vezes depois é ressignificado pelo próprio paciente, quando ele retorna a um estados de mais juízo crítico, no qual pode reavaliar sob outra ótica o que de fato aconteceu.
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